Procurador do TCU Julio Marcelo de Oliveira fala na sede do TCMRJ

Procurador do Ministério Público de Contas do TCU, Julio Marcelo de Oliveira.
Procurador do Ministério Público de Contas do TCU, Julio Marcelo de Oliveira.

Responsável pelo parecer que levou à condenação das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff, o procurador do Ministério Público de Contas do TCU, Julio Marcelo de Oliveira, disse hoje, em palestra no auditório do TCMRJ, que, apesar dos esforços, a Lei de Responsabilidade Fiscal não impediu a crise fiscal que testemunhamos atualmente no País. Um dos motivos é que, segundo Julio Marcelo, ela dá enfoque ao controle do resultado primário do orçamento e não no resultado fiscal nominal.

– Os eixos interpretativos da LRF devem ser mais firmes na direção de proteger os governos e as gerações futuras de um desequilíbrio das contas públicas. Enquanto a sociedade não conceber a disciplina fiscal como um valor, a lei ainda será vista com antipatia – afirmou o procurador do TCU.

Outro ponto para o descontrole fiscal, segundo ele, é a falta de limite para o endividamento do governo federal:

– Por exemplo, o Banco Central tem liberdade para aumentar o limite da dívida pública e essa despesa não pode ser questionada. Hoje, temos, como resultado, mais de 60% do PIB comprometido com o pagamento da dívida. Será que daqui a quatro, cinco anos, conseguiremos pagar essa dívida? – questionou Julio Marcelo.

Ele, no entanto, acredita que a chamada Lei da Qualidade Fiscal aprimorará o gasto público a medida em que combaterá a “má disciplina fiscal”. Como exemplo, ele citou os Restos a Pagar, “utilizados como artifício para fabricar um resultado primário irreal”, e que só poderão ocorrer de forma excepcional.

Frases destacadas da palestra do procurador:

“Ainda não criamos uma avaliação da qualidade de gastos como critério de avaliação política.”

“Inflação é uma forma disfarçada de dar um calote na população: enquanto preços e arrecadação sobem; salários perdem valor de compra.”

“O Estado tem o vício de ser otimista demais; fabrica situações no orçamento e não entrega os serviços que promete. Com isso, perde credibilidade e confiança.”

Para Ministro Benjamin Zymler agora não é tempo para concessões

Mais cedo, o ministro do TCU, Benjamin Zymler criticou a possibilidade de assunção de despesas e dívidas no momento em que um déficit fiscal “gigantesco” é registrado no País. Para ele, a situação vivida hoje em dia não permite que sejam feitas concessões. Ele comparou essa atitude a uma família que fosse comemorar em Paris a contratação de um novo empréstimo para cobrir uma dívida de R$ 1 milhão.

Zymler também falou que as maiores críticas do TCU em relação às contas de 2014 e 2015 foram a incapacidade do governo em diagnosticar a receita de forma adequada:

– Ao invés disto, recebemos projeções utópicas, sem balizamento técnico ou jurídico – falou o ministro na primeira palestra da manhã desta quinta-feira.

O 3º Congresso Internacional de Direito Financeiro, realizado no auditório do TCMRJ, prosseguiu ainda durante a manhã de hoje (01/09) com as palestras do professor José Marcos Domingues de Oliveira, que apresentou o tema “Orçamento e controle judicial: pauta em evolução?”; e do catedrático da Universidade de Salamanca, José María Lago Montero, que falou sobre o princípio da estabilidade orçamentária na União Europeia.